sábado, 10 de janeiro de 2009

A Luta faz a História.

As desigualdades na distribuição de renda e no acesso ao ensino ainda persistem, apesar da escravidão ter sido oficialmente extinta há mais de 120 anos.

Embora os órgãos governamentais estabeleçam o fim da escravidão a partir da assinatura da Lei Áurea em 13 maio de 1888, entendemos, que o marco de luta, resistência e referência para os escravizados é fundamentalmente, a luta do Quilombo dos Palmares, data na qual foi assassinado Zumbi dos Palmares em 20 de novembro de 1695.

Outros exemplos concretos de luta do povo negro foram: a “Revolta dos Malês” em 25/01/1835, Salvador - Bahia, liderado dentre outros por Licutan; No Rio de Janeiro, em 22 de novembro ,no ano de 1910, João Cândido, o Almirante Negro, comandou a luta que ficou conhecida na história como “A Revolta da Chibata”.Em 1931 foi fundada a Frente negra Brasileira, que se transforma num Partido Político .Em 1944 surge o Teatro Experimental do Negro, bem como, fundam também o Teatro Popular brasileiro, onde se destaca o poeta Solano Trindade . Posteriormente, outros personagens vão contribuir enormemente com o nosso movimento. Enfim, tantos outros, que no silêncio e anonimato resistem contra toda forma de escravidão, opressão racial e de classe.

Em 1971 o poeta Edson Carneiro da o pontapé sobre a data de 20 de novembro, culminando com a atuação do MNU (movimento Negro Unificado), que no dia 7 de Julho de 1978 propôs o 20 de novembro como dia Nacional da Consciência negra.

No dia 20 de novembro de 1989, a Câmara Municipal de São Bernardo do Campo por força de uma propositura do ex-vereador Aldo Santos, realizara pela primeira vez o debate oficial sobre o significado histórico da luta de Zumbi dos Palmares e a necessária contextualização nos dias atuais.

Com o debate institucional posto, todos os anos, várias entidades e partidos políticos têm se dedicado a esse tema, vez que até mesmo no calendário oficial da diretoria de ensino, consta oficialmente o tema que deve estar contido no planejamento escolar da cidade.

Em 2001, apresentamos o projeto que institui o feriado na cidade, a exemplo de outras cidades no Brasil. A cada ano aumenta nossa ação consciente no combate as mais variadas fórmulas de expressão de ações preconceituosas, brincadeiras racistas e politização política como ocorreu com a eleição do Atual Presidente Americano Barack Obama.

Contextualizando esse debate, os dados da realidade que compõe o quadro da disparidade sócio-econômico e educacional expressam de forma contundente a emergência de nossa ação no cotidiano.

Dos 14 milhões de analfabetos brasileiros, cerca de 9 milhões são negros. Em termos relativos, a taxa de analfabetismo da população branca é de 6,1%, para as pessoas com 15 anos ou mais, e de 14% para os negros. Os indicadores apontam que 57,9% dos estudantes brancos de 18 a 24 anos estavam no nível superior, em 2007, contra 25,4% negros. Mesmo com a política de cotas em mais de 60 universidades públicas, a maioria dos jovens negros ainda estão fora do ensino superior.

De acordo com o IBGE, a população de “pretos e pardos” superou a de brancos em 2007: 49,7% dos brasileiros são afro-descendentes, enquanto os brancos representam 49,4% da população.

A distribuição de renda entre os 10% mais pobres e entre o 1% mais rico mostra que, em 2007, os brancos eram 25,5% do total entre os mais pobres, e 86,3% entre os mais ricos. Já os negros representavam 73,9% entre os mais pobres, e apenas 12% entre os mais ricos.

Em São Bernardo será feriado.

Como se não bastasse os dados acima, temos que amargar, com o cativeiro imposto a população de SBC, transformando-a numa ilha de preconceito na região do ABCDMRR.

Expressando o seu caráter discriminatório a atual administração sequer permite à população negra do município comemorar o seu dia com tranqüilidade, na medida em que vetou todas as iniciativas, no sentido de que o dia 20 de novembro haja o feriado de fato..

Nossa indignação se volta também contra o governo Serra e Lula que negam a grande maioria da população do Estado de São Paulo e do país, o direito de homenagear nossos heróis da resistência contra a escravidão e o genocídio cometido a população negra.

No Grande ABC, São Bernardo do Campo permanece como uma ilha de preconceito, pois na grande maioria das cidades do Estado, o feriado já é uma realidade, enquanto na nossa cidade, parece que o espírito dos capitães do mato permanece vivo naqueles que administram o município.

Nossa luta contra o racismo e a discriminação vai continuar,e esperamos que o 20 de novembro seja transformado num grande feriado nacional, para que possamos comemorar plenamente a luta e a resistência dos nossos bravos guerreiros que ousaram enfrentar o genocídio da tirania escravocrata.

As alegações do prefeito são de natureza comercial, justificada pelo lobby de alguns empresários, cujo lucro é a razão de sua existência. Algumas cidades pressionadas pelo movimento organizado e por prefeitos sensibilizados aprovaram em toda região o histórico feriado, em que pese, mais uma vez o lucro falar mais alto e também de forma desrespeitosa, burlam a lei, transferindo a data para um sábado ou domingo, pois segundo eles causaria menor impacto sobre a economia da cidade.

Entendemos que o prefeito Dib, poderia ainda numa atitude de grandeza, decretar o referido feriado, para não passar para a história do movimento negro e dos pobres da cidade como um prefeito insensível a população empobrecida do nosso município. Repudiamos ainda, esses prefeitos da região que numa manobra clássica tentam descaracterizar a nossa luta e nossa história transferindo o feriado da data marcante – o dia que assassinaram Zumbi dos Palmares, 20 de Novembro de 1695 – em detrimento do lucro, do comercio e do capital.

Deste modo, é fundamental que a classe trabalhadora, bem como o movimento negro possa avançar a luta contra os ataques patronal, governamental, e agora mais ainda em relação a crise do capitalismo – crise permanente , para os trabalhadores em geral.

Mais do que nunca se faz necessário retomarmos a luta pelo feriado municipal, rumo ao feriado nacional, bem como, agregar outra agenda em sintonia com a conjuntura nacional, tal como, a reestatização da Petrobrás, Vale do Rio Doce ,redução da jornada de trabalho para 30 horas semanais, sem redução de salários e conquistas e outras.

as bandeiras do movimento negro tremulam em todo o paÍs; em todos os cantos da terra; rumo ao reparo histórico, a condenação do preconceito ainda existente, com a dose de rebeldia necessária contra os opressores da classe.



Lutar é preciso

Aldo Santos

18/11/2008

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