terça-feira, 8 de abril de 2008

SP registra 217 agressões a professores em um ano


Vagner Magalhães
Direto de São Paulo
Portal Terra


Dados da Secretaria Estadual de Educação apontam que 217 professores foram agredidos fisicamente no interior das escolas públicas do Estado de São Paulo em 2006. Levando-se em conta que o ano letivo no Estado é de 200 dias, na média, mais de um professor sofre algum tipo de agressão diariamente.

Os dados de 2007 não estão disponíveis, mas as delegacias de polícia têm registrado casos considerados graves e violentos. Assustados, professores admitem que o controle dos alunos é cada vez mais difícil e alegam que não têm apoio das autoridades educacionais nos momentos mais difíceis.

Somente no mês de junho, no Estado, uma professora teve parte do cabelo queimado, outra foi surrada e uma terceira foi colada à própria cadeira, entre outros casos. O problema não se resume somente às escolas do Estado. Em São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo, uma professora da rede municipal teve parte do dedo indicador decepado por um aluno de dez anos, quando tentava trazer o garoto de volta à sala de aula. O dedo foi ferido com a porta do banheiro, onde o menino se trancou.

Pesquisa do Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp), realizada no fim do ano passado, aponta que os professores vêem a violência como parte do seu cotidiano. Na pesquisa, 96% dizem que o tipo mais comum de violência é a agressão verbal e 82% apontam a agressão física como um ato comum dentro das escolas. A mesma pesquisa mostra que 39% se sentem inseguros a ponto de deixar de ir à aula e 29% cogitam de deixar de lecionar por causa do problema.

A Secretaria da Educação, por meio da sua assessoria de imprensa, minimiza os números da violência ao afirmar que a rede estadual de ensino conta com 230 mil professores e que, nesse universo, os casos de agressão física não atingem 0,1% do total de professores. Afirma que no passado os números foram maiores e estimula que as escolas participem de atividades em conjunto com a sociedade. A rede conta com 5 milhões de alunos.

De acordo com Sheila Daniela Medeiros dos Santos, pedagoga e doutora em psicologia educacional, o que acontece do lado de dentro das escolas é reflexo do que está à sua volta. "A escola está inserida num contexto amplo, de violência, que se reflete lá dentro. As condições de ensino não são as determinantes nestes casos, mas sim o que está ao seu redor", diz.

Para a Apeoesp, a situação é ainda mais grave do que apontam os números, já que muitos casos são abafados dentro das escolas. "Os diretores não querem que o nome da instituição apareça de forma negativa no noticiário. Muitas escolas e a própria Secretaria da Educação não têm interesse em expor as mazelas do ensino público à população", diz Aldo Santos, professor de filosofia da rede pública estadual e membro da diretoria da Apeoesp.

No meio do fogo cruzado, a Justiça paulista se preocupa com a situação e afirma que a violência e o ambiente conturbado acaba se refletindo na queda da qualidade do ensino, com professores cada vez mais desmotivados, alunos com falta de interesse em aprender, e um conseqüente afastamento entre educadores e estudantes.

"Reconhecemos que há muito para ser feito, mas as próprias escolas estão conscientes disso. Muita coisa precisa ser reformulada", afirma Luciana Bergamo Tchorbadjian, promotora de Justiça da Infância e da Juventude de São Paulo e coordenadora de um projeto-piloto de justiça restaurativa nas escolas, que consiste na procura de consenso entre as partes em caso de atrito.

Caren Ruotti, pesquisadora do Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São Paulo (USP) e co-autora do recém lançado livro Violência na Escola - Um Guia Para Pais e Professores, afirma que "a escola ainda é um lugar seguro, apesar de tudo."

"O que se precisa trabalhar é a convivência entre professores e alunos. Há muita resistência em se mudar as práticas dentro de uma escola. Se isso partir, por exemplo, da direção, pode ajudar a impulsionar um novo momento na convivência entre professores e alunos", diz.

Redação Terra

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